sábado, 31 de julho de 2010

Expectativa

Depois de iniciar a banda e agora tendo-a completa, eu sempre fico na expectativa de vir o próximo ensaio, mas tenho que afirmar que no nosso primeiro show eu estava morrendo de medo. Algo que já disse num outro texto, só que agora tenho um novo ambiente para destilar percepções. Tive medo, pois sou tímido, por mais que meus amigos mais próximos digam-me o contrário. Sim, sou tímido, tremia-me demais, não sabia para onde olhar, vi em vários olhos aquela expectativa de um bom show e ainda, mal-preparado para o baque, escutei a guitarra de André começar o primeiro riff de Jumpin Jack Flash - era a deixa, o show estava começando. Danilo entrava no segundo riff, eu daria um grito pra finalizar a entrada após o quarto riff e a música deslancha depois dessa sequência. 
Diga-se de passagem, naquela época éramos só nós três. O baixista e o baterista foram pessoas que conhecemos no dia, que até conheciam as músicas, mas não as leves mudanças que fizemos num grau de adaptação que toda banda cria para traduzir a sua interpretação. Eles fizeram o possível pra manter a música crível e boa, até conseguiram. Mas meu suor, meus olhos arregalados e minha garganta que se secou instantaneamente traduziam um amadorismo de primeira viagem. Não podia, porém, deixar que essas coisas estragassem aquela primeira apresentação. Como alguns sabem, da primeira formação dos Congruentes - até chegarmos a In Congruentes agora - eu e Danilo sempre estivemos juntos. E Danilo estava em cópula - sim, fui eufêmico - com aquele momento, não poderia estragá-lo, por ele. Nem principalmente por André, pois o show era uma audição da professora de guitarra deles - alguns dizem professor, pela rispidez - e ele transmitia uma calma para lá de abissal. Só lembro ele bater em meu ombro e dizer, Calma, Bonitão. E eu não senti a calma. 
Fiz o que devia fazer. Cantamos a sequência: Jumping Jack, Money - sem o backing vocal deles, a música ficou vazia e depois eu fiz esse backing - e Geração Coca-cola.  Nessa, depois de um pouco mais confiante, acabei por esquecer a primeira estrofe e fui no "enrolation", depois a letra apareceu. As pessoas cantavam conosco, aplaudiram o fato de eu não ter deixado a peteca cair quando esqueci a letra - até porque eu falei, Ih esqueci a letra, alguém lembra aí?, e muitos riram. - depois disso, o show foi aquela sensação de paz, tudo muito gostoso. Nesse ponto vi que a plateia não é apenas um grupo que critica, mas pessoas atrás de diversão. Alguns até a cobram, outros apenas buscam que ela exista. Me diverti. Todos se divertiram. A coisa foi bonita. Assim que der eu coloco as filmagens no YouTube. 

Agora, temos uma banda completa. Com um senhor baixista e um senhor baterista - calma Afonso, não estou chamando-o de coroa, coroa - mas a síntese que quase não foi possível no show, hoje se mostra tão simples e fácil. Por exemplo, as mudanças que fizemos em Jumpin se concentram na linearidade da música e principalmente na bateria, com muito mais empolgação. O baixo faz aquele toque mais agudo do final do quarto riff da guitarra e eu entro, a bateria vai do segundo riff em diante, deixando a música ininterrupta, algo que deu à música um toque mais firme e de metal. Ao final dela, emendamos com Money, outro gritinho, um toque na guitarra e depois todos juntos. E de novo bateria em riste, junto com dead notes de André e baixo a acompanhar o vocal. E nessa música, o vocal entra mais como um instrumento do que como um declamador de uma poesia ritmada. Ali somos os In Congruentes.

Do resto do set, eu prefiro deixar que o tempo e os shows possam mostrar a todos que nos acompanham as sutis evoluções que uma banda pode ter. O negócio é sempre tocar com emoção - por mais adolescente que isso possa parecer - e que essa emoção esteja para todos, tanto pros que tocam, como para aqueles que conseguem sentir a verdadeira vibração de uma música. 

Um beijo a todos.

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